O SUICÍDIO NO ADOLESCENTE

Essa espécie de confiança irreverente do suicida incomoda tanto as pessoas que, com frequência, vemos até no meio médico, pessoas que se negam ao atendimento de um suicida, assim como, infelizmente, aceitam a ideia de que “quem quer se matar que se mate”. Sabe-se hoje que, na grande maioria dos casos, o suicida tem uma percepção patologicamente falsa do mundo e dos valores, tal como um míope vê desfocada a realidade. Há inúmeros estados emocionais que limitam e distorcem a percepção da realidade, subtraindo da pessoa a devida liberdade. Nos últimos anos tem havido um aumento no número de suicídios realizado por adolescentes mas, apesar de se tratar de um acontecimento lamentável, as suas dimensões são bem pouco conhecidas. O suicídio tem sido considerado a segunda principal causa de morte de jovens entre 15 e 19 anos, perdendo apenas para os acidentes de carros e de motos, no máximo como terceira causa de morte. Entre os factores psiquiátricos associados ao suicídio, em primeiro lugar está a depressão, alteração afectiva predominante no acto suicida, desde sua concepção, até o suicídio de facto. Apesar de vários motivos ou explicações rodearem o suicídio dos adolescentes, como por exemplo, os factores de ordem sexual, as drogas, timidez, fracasso escolar, problemas sentimentais, de relação familiar, e muitos outros, se a pessoa passar por tudo isso sem depressão ela, certamente, não se suicidará. O suicídio da depressão não costuma ser espontâneo ou impulsivo, como acontece em alguns casos de esquizofrenia, de “bebedeira” patológica ou transtorno explosivo da personalidade. Na depressão o suicídio costuma ser elaborado em detalhes, com escolha do meio de se matar, hora e local do acto. O engano maior que se observa na nossa cultura é acreditar que só os adultos são vítimas da depressão, só “quem tem problemas e luta com as dificuldades da vida” pode deprimir-se. De facto, tanto o adolescente quanto o adulto podem ter depressão. No adolescente, entretanto, a depressão será pior ainda, pois nessa faixa etária o quadro depressivo pode ficar mascarado por outros sintomas, como por exemplo, a rebeldia, irritabilidade, mau humor, inquietação ou isolamento no quarto.